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Cirurgião suspeito de deformar nariz de cerca de 30 pessoas diz, em nota, que pacientes que o denunciaram ‘não são confiáveis’Cirurgião suspeito de deformar nariz de cerca de 30 pessoas diz, em nota, que pacientes que o denunciaram ‘não são confiáveis’

Polícia Civil e Conselho Regional de Medicina do estado de São Paulo (Cremesp) já iniciaram investigações sobre Alan Landecker, especialista em rinoplastia. Médico atribui problemas ao descumprimento das orientações pelos pacientes no pós-operatório e diz que possui provas de que relatos dos pacientes não condizem com a verdade.

O cirurgião plástico suspeito de deformar narizes em hospitais da cidade de São Paulo, Alan Landecker, disse em uma nota publicada em uma rede social que os pacientes podem ter sofrido “complicações como uma infecção”, que “as fontes utilizadas pela imprensa não são confiáveis” e que possui “provas inequívocas e abundantes de que as informações utilizadas não correspondem à verdade dos fatos”.

Landecker disse ainda que os pacientes em questão estiveram a seus cuidados recebendo “tratamentos clínico-cirúrgicos reconhecidos e que seguem os mais rígidos protocolos estabelecidos pela comunidade cientifica”.

Dezenas de pessoas atendidas pelo especialista em rinoplastia foram acometidas por infecções bacterianas após os procedimentos cirúrgicos, que resultaram em deformações, perda de olfato e perfuração devido ao apodrecimento da pele.

Pacientes do renomado cirurgião plástico afirmaram ao g1 no último dia 4 que não tiveram alta mesmo dois anos após o procedimento estético, já que seguem em tratamento, sem acesso a um prontuário que oriente os próximos passos e sem entender exatamente como um procedimento para trazer benefícios emocionais trouxe tantos danos.

O médico afirmou repudiar as acusações e atribuiu o problema ao descumprimento das orientações passadas aos pacientes para o pós-operatório 

A advogada Marília Frank é uma das pessoas que registraram boletim de ocorrência após o procedimento cirúrgico e que continua com pendências sobre o caso.

“Fiz a cirurgia em maio deste ano e, quando ele tirou o último curativo, viu que a cartilagem estava podre. Meu nariz estava estragado, eu estava toda torta, e ele me mandando pra casa tomar analgésico”, disse ela ao g1.

30 pacientes lesados

“Foi meu infectologista quem o convenceu sobre uma segunda cirurgia, mas ele não tirou todo o tecido morto, e a infecção tomou todo o meu rosto. Sigo em tratamento com um otorrino, que fez uma terceira cirurgia e prevê mais duas, sendo uma para reconstrução da columela porque ele retalhou meu nariz, e aí, sim, uma reparadora. Quero justiça. Ele me enrolou por dois meses, e a impressão é de que estava lucrando com a infecção”, continuou.

Marília registrou um dos boletins de ocorrência que orientam as investigações da polícia e, assim como os cerca de 30 pacientes que integram o grupo “Pacientes do Alan” no Whatsapp, teve complicações devido a uma infecção bacteriana.

Um dos casos mais graves é o do empresário Veraldino de Freitas Júnior, de 35 anos, que realizou a cirurgia com o médico em setembro de 2020 e continua com uma ferida aberta.

“No pós-operatório, meu nariz não desinchou, com o passar dos dias começou a feder, com as pessoas do meu convívio percebendo o odor insuportável, até que, no 15º dia, abriu uma ferida”, contou ele, acrescentando que foi o início de uma saga que já lhe custou R$ 300 mil, outras três cirurgias, o uso intravenoso de antibióticos duas vezes ao dia e sua saúde emocional.

‘Estou sem olfato’

Paula Oliveira, de 38 anos, também relata que a cirurgia impactou negativamente a vida dela, mesmo um ano após o procedimento.

“Eu fiz a cirurgia quando estava me recuperando de uma depressão, pronta para mudar de país e com emprego engatilhado por lá. Optei conscientemente por investir R$ 50 mil no melhor especialista, que não me desse problemas depois, mas ele devolveu um nariz pior e ainda bloqueou minha vida”, disse ela, que teve de abrir mão do trabalho para tratar a infecção.

“Me curei da infecção depois de um terceiro procedimento, mas ainda estou sem olfato, preciso esperar um prazo para fazer o reparo estético, já que fiquei com o nariz deformado, gastei o dobro do que previa com isso e sigo usando todas as minhas economias enquanto não consigo um novo trabalho”, continuou Paula.

Informações forjadas no prontuário

Outra paciente, uma empresária de 39 anos que prefere não se identificar, acionou as mesmas autoridades e também o Ministério Público. Com Alan, ela fez cinco cirurgias, sendo a primeira em junho do ano passado, e continua tratando da infecção.

“Eu só queria um ajuste e hoje eu trato diariamente de um problema. Tenho buraco no septo, mas o caso vai muito além de questões estéticas e de saúde – tem uma prática antiética envolvida. Descobri que ele opera sem médico-assistente, embora paguemos por isso. Quem o acompanha é um instrumentador. Ou seja, estimula e é conivente com o exercício ilegal da medicina. Outra coisa é o prontuário – quando o acesso não é blindado, há informações forjadas ou omitidas. No meu, por exemplo, não há menção ao uso que fiz de antibióticos. Isso é muito sério porque atrapalha o tratamento com outros profissionais. Ninguém quer pegar meu caso”, completou.

O que diz o cirurgião
“O médico já realizou mais de 4 mil rinoplastias, sendo 80% casos de rinoplastias secundárias complexas, com baixo número de complicações e nenhum tipo de reclamação judicial. A Rinoplastia é uma cirurgia complexa cujo processo de cicatrização é imprevisível e incontrolável. Complicações como a infecção, que são mais comuns em rinoplastia secundária, podem surgir mesmo que todas as etapas do tratamento tenho sido realizadas corretamente.

A rinoplastia é uma cirurgia complexa cujo processo de cicatrização é imprevisível e incontrolável. Complicações como a infecção, que são mais comuns em rinoplastia secundária, podem surgir mesmo que todas as etapas do tratamento tenho sido realizadas corretamente pelo médico.

“Vale lembrar que o sucesso de qualquer cirurgia depende de fatores ligados aos pacientes como idade, saúde, imunidade, alimentação, higiene e especialmente o seguimento das orientações médicas.

“Os pacientes em questão estiveram aos cuidados do Dr. Alan Landecker, tendo recebido tratamentos clínico-cirúrgicos reconhecidos e que seguem os mais rígidos protocolos estabelecidos pela comunidade cientifica”.

As rinoplastias foram realizadas sempre em hospitais de primeira linha em São Paulo, transcorreram sem anormalidades e tiveram excelentes resultados ao final das cirurgias. Fotografias foram realizadas e enviadas aos pacientes como comprovação.

Todos os pacientes da Clínica são acompanhados de forma intensiva por 3 anos, sendo que a iniciativa de não seguir fielmente as orientações medicas ou interromper o tratamento foi tomada pelos pacientes em questão. No que depende do profissional e sua equipe, não houve qualquer indício de negligência, imprudência ou imperícia.

As infecções ocorridas na minoria dos pacientes operados durante a pandemia são de causa provavelmente multifatorial, sendo que os casos mais graves foram causados por seis tipos de bactérias hospitalares – Micobacterium, Pseudomonas, Klebsiella, Stenotrophomonas, Achromobacter e Burkholderia.

Bactérias comunitárias como Staphylococcus, Corynebacterium e principalmente Enterococcus, presente nas fezes de humanos e animais domésticos, causaram as infecções mais leves. A maioria dos pacientes foi tratada com sucesso do ponto de vista estético e funcional.

Seguindo as normas da ética profissional, confidencialidade, educação e respeito, nenhum detalhe individual dos pacientes será discutido publicamente nesse comunicado.

Mesmo assim, Dr. Alan Landecker e equipe manifestam de forma sincera, consternada e profunda sua solidariedade a todos os pacientes que apresentaram qualquer tipo de intercorrência. O imenso cuidado e perfeccionismo do trabalho fez com que complicações sejam sempre lamentadas com veemência.

Com relação às instalações da clínica, todos os protocolos de tratamento foram auditados pela OH Consulting, empresa especializada em infectologia. Em outubro de 2021, uma visita técnica da Vigilância Sanitária da prefeitura de São Paulo atestou excelentes condições para o seu funcionamento.

Desde a migração exclusiva ao Hospital Israelita Albert Einstein, em nome da segurança dos pacientes, mais de 50 rinoplastias foram realizadas nos últimos 6 meses sem qualquer caso de infecção.

Ressaltamos ainda que as fontes utilizadas pela imprensa não são confiáveis, pois possuímos provas inequívocas e abundantes de que as informações utilizadas não correspondem a verdade dos fatos. A imprensa, assim como vocês, está sendo enganada.

Finalmente, a desobediência de princípios básicos de convivência social por parte dos ex-pacientes como assédio moral, perseguição, racismo, calúnias e difamações de toda ordem estão sendo tratadas nas esferas competentes”.

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