Nas duas últimas décadas o governo reverteu o sucateamento dos equipamentos da Polícia Civil se considerados estrutura de prédios, viaturas e armamentos, porém o investimento em tecnologia para agilizar as investigações ainda é baixo. A análise é do diretor do Sindpesp (Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo), Edson Pinheiro dos Santos Júnior, ao analisar o tema a pedido do RD.
Delegado com experiência em crimes patrimoniais e com uso de tecnologia, Santos Júnior foi responsável pelo Setor de Combate aos Crimes de Corrupção, Crime Organizado e Lavagem de Dinheiro da DEIC (Delegacia de Investigações Criminais) de São José dos Campos. Também atuou como delegado titular da Delegacia de Investigações Gerais – DIG e da Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes – DISE de São Sebastião, além de coordenar o Centro de Inteligência da Seccional da mesma cidade. Segundo o policial, essa parte de tecnologia na investigação policial precisa de atualização constante, o que o governo não tem conseguido fazer.
Para o delegado, o crime evolui, por isso a polícia tem necessidade de uma evolução constante, dispor de tecnologia para cruzamento de dados, drones, programas para extração de informações de HDs ou de celulares. O trabalho exige tecnologia para desarticular os grandes grupos criminosos, isso é essencial”, explica. Mas essa tecnologia até existe na Polícia Civil, mas não em volume suficiente e nem está pronta para atender a grande demanda das delegacias paulistas.
Em nota, a Secretaria e Segurança Pública relata investimentos feitos no ABC. A Polícia Civil, por meio do Demacro (Departamento de Polícia Judiciária da Macro São Paulo) informa que conta com o apoio do Dipol (Departamento de Inteligência da Polícia Civil), para aquisição de ferramentas de inteligência policial a fim de auxiliar nos trabalhos investigativos. Em 2023, a Delegacia Seccional de Diadema adquiriu oito drones com valor de aquisição total de R$ 83.648,00; já a Seccional de Santo André adquiriu, em 2022, diversos equipamentos de tecnologia da informação, entre 116 impressoras e 50 scanners, avaliados em R$ 477.429.50, e também recebeu, por meio do Dipol, 17 computadores, diz a nota. O investimento na Seccional de São Bernardo não foi citado, bem como a pasta não informou qual é o investimento previsto para este ano.
Segundo o delegado, esses equipamentos não estão em todos os lugares, uma parte pode ser encontrada em algumas delegacias seccionais outros só em departamentos. Os distritos policiais não possuem e o pedido precisa ser feito. Explica que isso está diretamente ligado ao tempo de elucidação e demorar 30 a 40 dias para receber um laudo não é razoável e não traz confiabilidade.
“Eu trabalhei muito com a investigação de lavagem de dinheiro e é preciso equipamento para a rápida troca de informações, para rastrear celulares, extrair informações do disco rígido de computadores ou memória de celulares, se o equipamento só está nos departamentos a delegacia tem de fazer pedido”, observa Santos Júnior.
O diretor do Sindpesp diz que a falta de tecnologia só agrava a situação das delegacias, que já sofrem com falta de pessoal. O déficit de policiais no ABC é de 39%, mesma média do Estado. O ABC deveria ter 1.948 policiais civis no âmbito das três delegacias seccionais da região, segundo os cargos criados em lei, mas tem apenas 1.195 em atuação, ou seja, faltam 753 policiais nas delegacias, segundo levantamento do próprio Sindpesp.
“Nenhuma tecnologia vai substituir o tirocínio do policial, muitas unidades são prejudicadas por esse déficit. No caso da Polícia Científica também falta pessoal para fazer o trabalho. Essa é uma situação que se arrasta há mais de três décadas em que o aparelhamento da Polícia Civil foi deixado em segundo plano. Temos menos policiais enquanto a população aumentou, há muito mais crimes e houve muito avanço tecnológico. Temos concursos em andamento, mas por mais que tragam gente para a polícia ainda vai ser insuficiente”, comenta o delegado.
Pessoal especializado é outra demanda que caminha junto com a necessidade de equipamentos tecnológicos para as investigações. “A extração de dados de computadores, por exemplo, não é uma coisa simples, não se trata apenas de colocar um pen-drive ou um cabo é preciso equipamento específico que demanda tecnologia. O Estado tem um banco de dados grande de DNA e de armamentos, mas é possível trazer mais volume e qualidade”, completa Santos Júnior.